O 26 de Junho de 1975, contado por D. Álvaro del Portillo

Apresentamos o relato de São Josemaria escrito por D. Álvaro del Portillo (1914-1994) que foi o seu primeiro sucessor e testemunha privilegiada das suas últimas horas na terra.

No dia 26 de Junho de 1975 Mons. Josemaria Escrivá faleceu repentinamente em Roma. No mês de Maio anterior havia realizado a sua última viagem à Espanha, onde recebera a medalha de ouro da cidade onde tinha nascido (Barbastro) e visitou o Santuário de Torreciudad cuja construção havia promovido e que estava prestes a ser inaugurado.

O seu falecimento encerrou a etapa fundacional do Opus Dei e deu início, usando palavras do seu sucessor, Mons. Álvaro del Portillo, à “etapa da continuidade e da fidelidade”. Mons. Álvaro del Portillo, foi testemunha privilegiada das suas últimas horas na terra.

“No dia 26 de Junho de 1975, o último dia da sua vida na terra, o Padre levantou-se à hora costumada. Ajudado pelo Pe. Javier Echevarría, celebrou a Missa de Nossa Senhora no oratório da Santíssima Trindade, as sete e cinquenta e três. Eu também celebrei a essa mesma hora, na sacristia maior, porque naquela manhã o nosso Fundador desejava ir com o Pe. Javier e comigo a Castelgandolfo, para despedir-se das suas filhas de Villa delle Rose, já que estávamos em vésperas de sair de Roma. Sentia-se bem fisicamente, e nada fazia prever o que aconteceria pouco depois. (…)

O Padre voltava de Villa delle Rose indubitavelmente cansado, mas sereno e contente. Atribuiu aquele mal-estar ao calor. (…) Às onze cinquenta e sete, entramos na garagem de Villa Tevere. (…)

São Josemaria chega a Villa delle Rose. Nesse mesmo dia, poucas horas mais tarde, faleceria em Villa Tevere, seu lugar de residência.

Cumprimentou Nosso Senhor no oratório da Santíssima Trindade e, como de costume, fez uma genuflexão pausada, devota, acompanhada de um ato de amor. A seguir, subimos até o meu escritório, que era o quarto onde habitualmente trabalhávamos, e, poucos segundos depois de ter passado a porta, chamou: Javi! O Pe. Javier Echevarría tinha ficado para trás, a fim de fechar a porta do elevador, e o nosso Padre repetiu com mais força: Javi! E depois, em voz mais fraca: Não me sinto bem. Imediatamente caiu no chão.

Para nós, era sem dúvida uma morte repentina; para o nosso Fundador, pelo contrário, foi algo que vinha amadurecendo – atrevo-me a dizê-lo – mais na sua alma do que no seu corpo, porque cada dia era maior a frequência com que oferecia a sua vida pela Igreja e pelo Papa.

Estou convencido de que o Padre pressentia a sua morte. Nos seus últimos anos, repetia frequentemente que estava a mais na terra e que, do Céu, poderia ajudar-nos muito melhor. Ouvi-lo falar assim – naquele seu tom forte, sincero, humilde – enchia-nos de dor, porque, enquanto ele pensava que era um peso, para nós era um tesouro insubstituível. (…)

Em todos os países, os meios de comunicação social passaram a difundir a notícia com respeito e veneração: era o reflexo da impressão colhida diretamente dos jornalistas que acorreram imediatamente a Villa Tevere. Nos dias sucessivos, foram aparecendo numerosíssimos artigos e programas de rádio e televisão, em que se destacava a importância da obra do nosso Fundador na vida da Igreja; a sua fama de santidade tornava-se ainda mais patente com a sua morte.

Consolou-me muito receber a afetuosa resposta do Santo Padre Paulo VI à notícia que eu lhe enviara como Secretário-Geral da Obra. Por meio de Mons. Benelli, o Papa exprimia as suas condolências e dizia-nos que também ele rezava permanecendo espiritualmente ao lado do corpo de “um filho tão fiel” à Santa Madre Igreja e ao Vigário de Cristo.

Antes do funeral público, chegou a Villa Tevere um telegrama da Sé Apostólica. O Romano Pontífice renovava as suas condolências, assegurava que estava oferecendo sufrágios pela alma do nosso Fundador e confirmava a sua persuasão de que era uma eleita e predileta de Deus; concluía, concedendo a Bênção Apostólica a toda a Obra. Como de costume, o telegrama era assinado pelo Cardeal Secretário de Estado, que se unia de todo o coração à nossa dor e aos sentimentos de Paulo VI, o qual desejava fazer-nos chegar quanto antes aquelas linhas.

Chegaram à sede central do Opus Dei milhares de telegramas e cartas dos cinco continentes; além das expressões da mais sentida dor, refletiam concordantemente a convicção de que tinha morrido um santo, um dos grandes fundadores suscitados na Igreja pelo Espírito Santo.”

Dom Álvaro reza junto aos restos mortais de São Josemaria, na Igreja prelatícia de Santa Maria da Paz, no dia em que faleceu o fundador do Opus Dei.

Publicado em: Federico M. Requena e Javier Sesé, Fuentes para la historia del Opus Dei, Barcelona, Ariel, 2002, p.150-152