Mons. Ocáriz: “A serenidade permite-nos dar profundidade ao trabalho”

Mais de 400 comunicadores da Igreja participaram num Congresso organizado pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz. O Prelado do Opus Dei encerrou o encontro.

"Diálogo, respeito e liberdade de expressão na esfera pública" foi o título de um congresso que atraiu mais de 400 comunicadores, de dioceses e de outras instituições da Igreja. A XI edição do Seminário Profissional de Comunicação da Igreja teve lugar na Pontifícia Universidade da Santa Cruz.

O perigo das fake news (notícias falsas), a necessidade de cuidar da reputação pessoal, o desenvolvimento de uma linguagem aberta, para = dialogar com quem pensa de maneira diferente foram alguns dos temas propostos nas sessões. Além disso, os participantes ouviram a opinião de jornalistas de media como o New York Times, a EWTN, a Itar-Tass ou a Radio France. Também se partilharam experiências de vários encarregados da comunicação eclesial, tais como os presidentes das Conferências Episcopais da França, e da Eslováquia e da Arquidiocese da Cidade do México.

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O professor Richard John, da Columbia University, falou sobre a necessidade de "redescobrir o valor da liberdade de expressão". Margaret Sommerville, professora de Bioética da Universidade de Notre Dame (Austrália), destacou algumas propostas sobre valores coloquiais na comunicação.

Os comunicadores visitaram também o Dicastério para a Comunicação da Santa Sé. Monsenhor Lucio Ruiz informou-os das reformas que se estão a implementar.

A conclusão ficou a cargo do Prelado do Opus Dei, Monsenhor Fernando Ocáriz. E este o texto da sua intervenção:

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Discurso de encerramento do 11º Seminário Profissional de Comunicação da Igreja: "Diálogo, respeito e liberdade de expressão na esfera pública"

Concluímos agora este seminário que, de dois em dois anos, reúne na Universidade da Santa Cruz numerosos profissionais que realizam atividades de comunicação na Igreja. Quero, antes de mais, agradecer o seu trabalho e animar todos a que continuem a desenvolver com generosidade este serviço à Igreja e à sociedade civil.

O que significa crescer em compreensão e respeito no âmbito da comunicação pública?

Sobre os três conceitos principais do título desta edição (diálogo, respeito e liberdade de expressão), gostaria de destacar duas ideias que se encontram no texto do Papa Francisco utilizado na apresentação do seminário: "Precisamos resolver as diferenças através de formas de diálogo que nos permitam crescer na compreensão e no respeito. A cultura do encontro requer que estejamos dispostos não apenas a dar, mas também a receber dos outros"[1].

Em primeiro lugar, o que significa crescer em compreensão e respeito no âmbito da comunicação pública? Talvez consista antes de mais em percebermos que toda a comunicação envolve pessoas com nome próprio: a pessoa que comunica, as pessoas sobre as quais se comunica e as pessoas a quem se dirige essa comunicação. A compreensão começa quando procuramos ver pessoas concretas (e não "massas") no centro de cada relacionamento comunicativo, mesmo que essas pessoas não estejam fisicamente presentes. Nós não as vemos, mas elas estão lá, com toda a sua dignidade, especialmente quando são mais vulneráveis. Toda a pessoa é importante, sobretudo porque Jesus Cristo por ela morreu e ressuscitou.

Particularmente nos últimos anos, quando surgiram em massa notícias falsas, ter compreensão e respeito significa renovar a profissão da área da informação a partir de dentro, aprofundando bem na sua dimensão de serviço a cada mulher e a cada homem, porque uma pessoa bem informada é uma pessoa mais livre e responsável e, portanto, mais capaz de atuar na sociedade de forma solidária.

Quem respeita os outros, a realidade das coisas e a essência da profissão torna-se também mais "respeitável"

Por outro lado, quem respeita os outros, a realidade das coisas e a essência da profissão torna-se também mais "respeitável", melhor interlocutor nos debates públicos. E ao procurar compreender os outros, entender os seus pontos de vista, descobrem-se aspetos verdadeiros que não se tinham considerado, ajustam-se melhor as propostas e, em última análise, uma pessoa torna-se também mais "compreensível". Se, por outro lado, o trabalho de comunicação ignora as questões ou perplexidades do outro, o monólogo ocupa o lugar do diálogo.

Em segundo lugar, neste jogo de dar e receber a que o Papa se refere, é importante redescobrir que, como comunicadores da Igreja, cada um dos presentes tem a oportunidade, inerente à sua liberdade religiosa, de propor à sociedade "a força da própria verdade" presente na fé cristã (Dignitatis Humanae, nº 1).

A possibilidade de iluminar as estruturas humanas com o espírito do Evangelho faz parte do direito fundamental à liberdade religiosa. As mulheres e os homens de hoje continuam a ter fome da verdade e continuam a procurar o sentido mais profundo das suas vidas. Com o seu trabalho e com a sua amizade, podem ser construtores da esplêndida tarefa de "nos ajudarmos mutuamente na procura da verdade" (Dignitatis Humanae, nº 3).

A dignidade humana exige proteger a capacidade de autodeterminação pessoal em direção à verdade, sem ser privado nem coagido. Por esta razão, o fundamento do direito à liberdade religiosa, tal como o entende o Magistério da Igreja, é o mesmo que o dos outros direitos civis (de imprensa, de opinião). E esse fundamento não é outro senão a dignidade humana.

Finalmente, permitam-me uma reflexão ligada à urgência que às vezes condiciona as tarefas de comunicação, o imediatismo com que são obrigados a atuar e a tomar decisões importantes: a necessidade que todos temos de cultivar amplos espaços interiores de serenidade, para tornar o nosso trabalho fecundo.

A serenidade permite-nos dar profundidade ao trabalho, descobrir a sua dimensão de eternidade e descansar em Deus.

A serenidade permite-nos dar profundidade ao trabalho, descobrir a sua dimensão de eternidade e descansar em Deus. São Josemaria, a cujo espírito se deve a criação desta universidade, dava uma sugestão concreta para o nosso dia a dia: "Descansai na filiação divina. Deus é um Pai cheio de ternura, de infinito amor. Chama-o Pai muitas vezes ao dia, e diz-lhe – a sós, no teu coração – que o amas, que o adoras; que sentes o orgulho e a força de ser seu filho"[2].

O sentido e a força de nos sabermos filhos de Deus, mais presente neste tempo de Páscoa, vai nos levar a viver a serenidade no trabalho, a transmitir paz e esperança nos nossos relacionamentos, e a unir fé e profissionalismo.

Um comunicador sereno pode infundir o sentido cristão no fluxo inevitavelmente veloz da opinião pública.

A serenidade nos dá uma visão ampla da realidade e ajuda a transmitir esta fé que foi confiada à Igreja há vinte séculos, de uma forma original, fresca, atraente. E a difundir a compreensão e o respeito por todo o mundo.

Muito obrigado!


[1] Francisco, Mensagem do Papa Francisco para o XLVIII Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2014.

[2] São Josemaria, Amigos de Deus, nº 150.