Misericórdia e esmola

O Papa convocou algumas audiências especiais a propósito do Ano da Misericórdia. Na de 9 de abril lembrava que “a esmola é um aspeto essencial da misericórdia”.

Reproduzimos alguns textos de São Josemaria que poderão ser úteis para rezar sobre este tema.

Texto da audiência de 9 de abril de 2016

Queridos irmãos e irmãs:

Um aspeto essencial da misericórdia é a esmola; mais ainda: o termo grego, donde deriva a palavra «esmola», significa precisamente misericórdia. E, como a misericórdia chega até nós por mil estradas, também de inúmeros modos a nossa esmola pode beneficiar o necessitado. Nesta categoria de necessitado, a Bíblia inclui os indigentes, os forasteiros, os órfãos e as viúvas. A esmola é um gesto de sincera solicitude por quem se aproxima de nós e nos pede ajuda; esta ajuda não deve ser prestada com alarde para sermos louvados pelos outros, mas no segredo onde só Deus vê e compreende o valor do ato realizado. Na verdade não é a aparência que conta, mas a capacidade de parar e fixar, olhos nos olhos, a pessoa que pede ajuda. Assim não devemos identificar a esmola com a oferta duma moedinha, dada à pressa para nos livrarmos de um pedinte, mas olhar a pessoa e deter-se a falar com ela, para se entender verdadeiramente o que ela necessita. A esmola deve levar consigo toda a riqueza da misericórdia. Lêem-se, no livro bíblico do Deuteronómio, estas palavras do Senhor: «Deves dar-lhe sem que o teu coração fique pesaroso» (15, 10.11). Isto significa que a esmola requer, antes de mais nada, uma atitude de alegria interior, pois – como disse Jesus – «a felicidade está mais em dar do que em receber».

Textos de São Josemaria para meditar

Dá-lhe o que puderes dar

Dá pena verificar de que modo alguns entendem a esmola: uns tostões ou um pouco de roupa velha. Parece que não leram o Evangelho. Não andeis com receios: ajudai as pessoas a formar-se com a fé e a fortaleza suficientes para se desprenderem generosamente, em vida, daquilo que lhes é necessário. - Aos renitentes, explicai-lhes que é pouco nobre e elegante, também do ponto de vista terreno, esperar pelo fim, quando forçosamente já não podem levar nada consigo.

Sulco, 26

Não morre ninguém se um dia renuncias ao meio de transporte que utilizas habitualmente e entregas como esmola a quantia poupada, mesmo que seja muito pouco dinheiro. De qualquer modo, se tens espírito de desprendimento, não deixarás de descobrir contínuas ocasiões, discretas e eficazes, de praticá-lo.

Amigos de Deus, 125

Escreves-me: - “Regra geral, os homens são pouco generosos com o seu dinheiro. Conversas, entusiasmos ruidosos, promessas, planos. À hora do sacrifício, são poucos os que "metem ombros". E, se dão, há de ser com uma diversão de permeio - baile, bingo, cinema, coquetel - ou com anúncio e lista de donativos na imprensa”.
- O quadro é triste, mas tem exceções. Sê tu também dos que não deixam que a mão esquerda saiba o que faz a direita, quando dão esmola.

Caminho, 466

Não viste os fulgores do olhar de Jesus quando a pobre viúva deixou no templo a sua pequena esmola?
- Dá-Lhe tu o que puderes dar; não está o mérito no pouco nem no muito, mas na vontade com que o deres.

Caminho, 829

O Senhor, com os braços abertos, pede-te uma constante esmola de amor.

Forja, 404

"É preciso abrir os olhos , é preciso saber olhar à nossa volta e reconhecer esses chamamentos que Deus nos dirige através daqueles que nos rodeiam"

É preciso abrir os olhos

Pedi ousadamente ao Senhor este tesouro, esta virtude sobrenatural da caridade, para levá-la à prática até o seu último detalhe.
Com freqüência nós, os cristãos, não soubemos corresponder a esse dom; às vezes o rebaixamos, como se não passasse de uma esmola sem alma, fria; ou o reduzimos a atitudes de beneficência mais ou menos formalista. Exprimia bem esta aberração a resignada queixa de uma doente: Aqui tratam-me com caridade, mas minha mãe cuidava de mim com carinho. O amor que nasce do coração de Cristo não pode dar lugar a esse gênero de distinções.

Amigos de Deus, 229

Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.
Se tu desejas alcançar este espírito, aconselho-te a ser parco contigo mesmo e muito generoso com os outros. Evita os gastos supérfluos por luxo, por veleidade, por vaidade, por comodismo...; não cries necessidades.

Amigos de Deus, 123

Compreende-se muito bem a impaciência, a angústia e os anseios inquietos daqueles que, com alma naturalmente cristã , não se resignam perante as situações de injustiça pessoal e social que o coração humano é capaz de criar. Tantos séculos de convivência entre os homens, e ainda tanto ódio, tanta destruição, tanto fanatismo acumulado em olhos que não querem ver e em corações que não querem amar.
Os bens da terra, repartidos entre poucos; os bens da cultura, encerrados em cenáculos. E, lá fora, fome de pão e de sabedoria; vidas humanas - que são santas, porque vêm de Deus - tratadas como simples coisas, como números de uma estatística. Compreendo e partilho dessa impaciência, levantando os olhos para Cristo, que continua a convidar-nos a pôr em prática o mandamento novo do amor.

É Cristo que passa, 111

É preciso abrir os olhos, saber olhar ao nosso redor e reconhecer essas chamadas que Deus nos dirige através dos que nos cercam. Não podemos viver de costas para a multidão, encerrados no nosso pequeno mundo. Não foi assim que Jesus viveu. Os Evangelhos falam-nos muitas vezes da sua misericórdia, da sua capacidade de participar da dor e das necessidades dos outros: compadece-se da viúva de Naim , chora a morte de Lázaro , preocupa-se com as multidões que o seguem e não têm que comer , compadece-se sobretudo dos pecadores, dos que caminham pelo mundo sem conhecerem a luz nem a verdade: Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.

Quando somos verdadeiramente filhos de Maria, compreendemos essa atitude do Senhor, nosso coração se dilata e revestimo-nos de entranhas de misericórdia. Dóem-nos, então, os sofrimentos, as misérias, os erros, a solidão, a angústia, a dor dos outros homens, nossos irmãos. E sentimos a urgência de ajudá-los em suas necessidades e de lhes falar de Deus, para que saibam tratá-lo como filhos e possam conhecer as delicadezas maternais de Maria.

É Cristo que passa, 146