Meditações: Sexta-feira da 3ª semana do Advento

Reflexão para meditação na sexta-feira da terceira semana do Advento. Os temas propostos são: a paz é um dom de Deus; o plano de salvação é universal; São João Batista quer apenas que Jesus brilhe.


“O SENHOR virá no esplendor da sua glória visitar o seu povo e dar-lhe a paz e a vida eterna”, rezamos hoje na Antífona de Entrada. A paz é um dos sinais da vinda do Messias. Os profetas nos lembram que ele trará paz a Israel, e que somente com a sua ajuda eles serão libertados dos seus inimigos. Portanto, “o nome que lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz” (Is 9,5). A paz não é apenas o resultado de uma estratégia humana, mas um dom que vem pela mão de Deus; é o fruto da presença de Deus entre os seus. “Nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho” : uma presença pacífica que nunca terminará.

Deus fez uma aliança de paz com a humanidade. Zacarias lembra isso no dia da circuncisão do seu filho João. Na frente da família e amigos, ele entoa o Benedictus, um hino de louvor e ação de graças. Feliz pelo dom da paternidade inesperada, exclama: “O sol que nasce do alto nos visitará, para iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte, e dirigir nossos passos no caminho da paz” (Lc 2,14). Na véspera de Natal também ouviremos com alegria o canto dos anjos aos pastores de Belém: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,14).

Vemos, definitivamente, que o Senhor quer que os seus discípulos desfrutem da paz que a sua presença nos traz. “A paz esteja convosco” (Jo 20,19) é a saudação do Senhor Ressuscitado. Na intimidade da oração e nos sacramentos, recuperamos, mais uma vez, o dom da paz. Por isso, juntamente com toda a Igreja, pedimos humildemente: “Vinde visitar-nos, ó Senhor, em grande paz e segurança, para que nos alegremos ante vós, com reto coração”[1].


ISAÍAS, na primeira leitura de hoje, anuncia que a salvação é uma mensagem para todos os homens, também para os estrangeiros, porque “aos que mantêm aliança comigo, a esses conduzirei ao meu santo monte e os alegrarei em minha casa de oração; aceitarei com agrado em meu altar seus holocaustos e vítimas” (Is 56,6-7).

Ninguém fica excluído deste chamado porque Deus “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade”. Depois da Encarnação, a adoração ao Senhor não se limita a um rito, em um determinado lugar, mas pode ser feita com o coração em qualquer lugar. “Estás em Jerusalém? Estás na Bretanha? – Dizia São Jerônimo. Isso não importa. A presença celeste está diante de vós, aberta, porque o Reino de Deus está dentro de nós”[2].

O profeta Isaías convoca os que estão longe de Deus, tanto os que nunca tiveram a oportunidade de conhecer o Senhor como os que talvez tenham perdido o caminho ou se tenham distraído. O Decreto Ad Gentes do Concílio Vaticano II lembra que “a Igreja, ‘sal da terra e luz do mundo’ (Mt 5, 13-14) é chamada com mais instância a salvar e renovar toda criatura, para que tudo seja restaurado em Cristo, e n’Ele todos os homens constituam uma só família e um só povo de Deus” (n. 1).

“Ser Povo de Deus, segundo o grande desígnio de amor do Pai, quer dizer ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade, significa anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de respostas que animem, que infundam esperança e que deem um vigor renovado ao caminho. A Igreja seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada qual possa sentir-se acolhido, amado, perdoado e encorajado a viver em conformidade com a vida boa do Evangelho. E para fazer com que o outro se sinta acolhido, amado, perdoado e encorajado, a Igreja deve manter as suas portas abertas, a fim de que todos possam entrar. E nós temos que sair através de tais portas e anunciar o Evangelho”[3].


NO INÍCIO do Advento, a Igreja nos exortava através de São Paulo: “Já é hora de despertar (...). A noite já vai adiantada, o dia vem chegando (...) vistamos as armas da luz” (Rm 13,11-12). Durante esses dias, ouvimos a voz forte de João Batista convidando-nos a nos aproximarmos de Cristo. João, com palavras do próprio Jesus Cristo, é “uma lâmpada que estava acesa e a brilhar” (Jo 5, 35). No Batista vemos a figura da pessoa que anuncia humildemente o mensageiro da paz universal. Ele não chama a atenção para si mesmo, mas para a verdadeira luz que é Cristo.

Ao ler o Evangelho da Missa de hoje, recordamos que São João Batista sabe que tudo vem de Deus, até mesmo o alento que o anima. Assim que Cristo começa a ser conhecido, João se esconde voluntariamente; leva os seus discípulos a seguir Jesus, e termina a sua vida no silêncio, no abandono de uma prisão: sem reclamar, feliz por ter se dedicado inteiramente ao serviço de Deus. São Gregório Magno observa que “João perseverou em santidade porque permaneceu humilde em seu coração”[4]. O próprio Batista tinha dito: “É necessário que ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30); é difícil resumir em menos palavras a essência da vida interior.

Se olharmos novamente para São João, descobrimos um homem de personalidade, com uma firmeza e resolução muito distante de qualquer falta de caráter ou leviandade. Entretanto, a fim de cumprir a sua missão, ele não hesita em se diminuir para “que só Jesus brilhe”[5]. São Josemaria nos encoraja a seguir o exemplo do precursor: “Não esqueçam que é um sinal de predileção divina passar despercebido (...). Dá-me grande alegria pensar que se pode viver toda a vida desta maneira: ser apóstolo, ocultar-se e desaparecer. Mesmo que às vezes seja difícil, é muito bonito desaparecer”[6].

Isto é o que pedimos a Deus na Missa de hoje: “Olhai benignamente, Senhor, para as nossas humildes ofertas e orações”[7]. Maria, Rainha da Paz, tornará efetivos nossos desejos de paz e humildade, com a esperança de que somente Jesus Cristo reine nas almas.


[1] Aleluia, sexta-feira da terceira semana do Advento.

[2] São Jerônimo, Epistolae, 2, 58, 2.

[3] Francisco, Audiência Geral, 12/06/2013.

[4] São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 20, 5.

[5] São Josemaria, Carta de 28 de janeiro de 1975.

[6] São Josemaria, Carta 24 de março de 1930, no. 21.

[7] Sexta-feira da Terceira Semana do Advento, Oração sobre as oferendas.