Meditações: Segunda-feira da 4ª semana da Quaresma

Reflexão para meditar na segunda-feira da 4ª semana da Quaresma. Os temas propostos são: Deus se entusiasma conosco; Abandonar-nos como crianças; Fé é abrir espaço para Deus.

Deus se entusiasma conosco

Abandonar-nos como crianças

Fé é abrir espaço para Deus


ONTEM CELEBRAMOS o Domingo Laetare, para lembrar que a Quaresma é um tempo de penitência que nos prepara para a grande alegria da Páscoa. No livro do profeta Isaías, ouvimos Deus nos dizer: “Eis que eu criarei novos céus e nova terra, coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória. Ao contrário, haverá alegria e exultação sem fim em razão das coisas que eu vou criar; farei de Jerusalém a cidade da exultação e um povo cheio de alegria. Eu também exulto com Jerusalém e alegro-me com o meu povo” (Is 65,17-19). O Senhor nos convida à alegria e Ele mesmo se alegra. No livro do Gênesis também percebemos esta alegria de Deus quando, contemplando o mundo que acaba de sair de suas mãos, vê que é “muito bom” (Gn 1,31). O criador, que havia preparado o mundo para os homens, já sonhava com a vida dos seus filhos.

Sabemos que, no entanto, depois veio o pecado e a destruição da harmonia inicial. Mas Deus não se cansou de perdoar ou se entusiasmar com os homens. Cada um de nós é, de alguma forma, um sonho de Deus, um projeto de bem e de felicidade. “Deus pensa em cada um de nós, e pensa bem! Ele nos ama e sonha com a alegria que desfrutará conosco. Por isso, o Senhor quer nos recriar, renovar nosso coração (...) para que a alegria triunfe. (...) E faz tantos planos: construiremos casas..., plantaremos vinhas, comeremos seus frutos..., todos os anseios que um apaixonado possa ter”[1]. São Josemaria, pensando nas palavras do profeta Isaías em que Deus nos diz que somos um projeto divino, não escondia sua emoção: “Que Deus me diga a mim que sou d’Ele! É para ficar louco de Amor!”[2]


“EU VOS EXALTAREI, Senhor, porque me livrastes» (Sal 29,2). Este salmo expressa a gratidão de um homem que foi resgatado por Deus das garras da morte. Nesta experiência, o salmista aprendeu pelo menos duas coisas importantes. A primeira é que a ira de Deus dura apenas um momento, mas a sua bondade dura uma vida inteira. O Senhor não quer destruir, mas corrigir para que seus filhos possam ser felizes. Portanto, mesmo tendo-O ofendido com o pecado, sempre é possível retornar a Ele com a certeza de que seremos bem-vindos. Embora às vezes possa parecer que nos deixou sozinhos ou que se ocultou de nós, na realidade Deus sempre será fiel.

“Por um momento eu te havia abandonado, mas com profunda afeição eu te recebo de novo. Num acesso de cólera volvi de ti minha face. Mas no meu eterno amor, tenho compaixão de ti” (Is 54,7-8).

O segundo ensinamento do salmo é que a doença e a morte mostram ao homem a sua fragilidade. No momento da prosperidade é fácil esquecer-se disso e não dar importância à necessidade que temos dos outros e, sobretudo, de Deus. Por outro lado, quando chega um momento de crise pessoal ou familiar, essa debilidade se revela. Compreende-se, então, com nova profundidade, a importância que a comunhão – com Deus e com os outros – e a oração têm em nossas vidas. “Disseste-me: Padre, estou passando muito mal. E eu te respondi ao ouvido: Põe aos ombros uma partezinha dessa cruz, só uma parte pequena. E se nem mesmo assim podes com ela..., deixa-a toda inteira sobre os ombros fortes de Cristo. E repete desde já comigo: Senhor, meu Deus! Em tuas mãos abandono o passado, o presente e o futuro, o pequeno e o grande, o pouco e o muito, o temporal e o eterno. E fica tranquilo”[3].


EM CERTA OCASIÃO, um homem poderoso, um alto funcionário real, pede a Jesus que vá com ele a Cafarnaum para curar o seu filho gravemente doente. Sua fé e sua esperança ainda são fracas, mas em seu amor paterno não quer deixar de tentar qualquer coisa para ajudar o seu filho. Por isso, percorreu os mais de trinta quilômetros entre Cafarnaum e Caná, para ir ao encontro desse Mestre que tem fama de realizar milagres antes nunca vistos.

O Senhor faz um pequeno apelo, lamentando serenamente a incredulidade que encontrava na Galileia: todos queriam ver sinais e maravilhas, mas não estavam tão dispostos a aceitar sua palavra ou a se converter. Aquele homem insiste e, sobretudo, pouco a pouco começa a acreditar de verdade, como mostra a sua dócil obediência ao que Jesus lhe indica: “Podes ir, teu filho está vivo” (Jo 4,50). Enquanto ele corre de volta para Cafarnaum, seus servos vêm recebê-lo com a notícia de que o menino está bem. Então, ele abraçou a fé, juntamente com toda a sua família (Jo 4,53), conclui o evangelista.

O Senhor quer nos curar, como fez com o filho do funcionário real, libertando-nos das nossas escravidões e perdoando os nossos pecados. E nos pede a mesma coisa: acreditar. “A fé é abrir espaço para esse amor de Deus, abrir espaço para o poder de Deus, mas não para o poder de alguém muito poderoso, mas para o poder de alguém que me ama, que está apaixonado por mim e quer viver a alegria comigo. Isso é fé. Isso é crer: abrir espaço para que o Senhor venha e me transforme”[4]. Podemos pedir à nossa Mãe que nos ajude a ter, como ela, uma fé grande, disponível e humilde, para que o Senhor possa encher-nos com a sua graça.


[1] Francisco, Homilia, 16/03/2015.

[2] São Josemaria, Forja, n. 12.

[3] São Josemaria, Via Sacra, VII Estação, n.3.

[4] Francisco, Homilia, 16/03/2015.