Conheci São Josemaria cantando

Assim iniciou Hugo de Azevedo a apresentação da biografia “Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei”, de sua autoria.

Hugo de Azevedo tinha 16 anos e era o dia 14 de Outubro de 1948. S. Josemaria subia as escadas da Residência da Boavista (hoje, Vega Clube no Porto) e ia cantando um ritornello romano (Não cantava canções de igreja na rua…). Cantava canções romanas, italianas. Gostava imenso! Ou as suas jotas aragonesas, cheias de força e de vigor… Gostava de fado – não cantava fados, mas gostava. Era um homem feliz! Era um encanto estar com ele!

Assim descreveu o primeiro de muitos encontros com S. Josemaria na apresentação do seu livro “Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei”, no auditório da AESE, no dia 9 de Janeiro de 2012, 110º aniversário do nascimento do biografado. Não se trata de um livro novo, mas da reedição revista da obra “Uma luz no mundo”, de 1988 que há muito se encontrava esgotada. Zita Seabra, diretora da Aletheia, sublinhou que esta edição fora iniciativa da editora a que preside, tendo em conta o interesse de uma biografia escrita por um português que teve o privilégio de conhecer e privar quotidianamente, durante alguns anos com um santo, que amou e esteve várias vezes – mais de 12 - em Portugal.

Depois, assistiu-se ao fluir de recordações por parte do autor da biografia.

O amor de S. Josemaria pelo nosso país começou de uma maneira paradoxal: amou de tal maneira Portugal que resolveu primeiro ir a França – recordou o autor. De facto, S Josemaria, com a sua sensibilidade histórica, tinha pensado que o Opus Dei seria mais bem recebido pelos portugueses através da influência cultural francesa. No entanto, como é bem conhecido e gostava de dizer, as portas ser-lhe-iam abertas por Nossa Senhora, em Fevereiro de 1945, por mãos da irmã Lúcia.

A partir dessa data, sempre manifestou uma certa ternura por este primeiro país, depois de Espanha, onde ele próprio preparou o caminho para a Obra: Fátima era o seu descanso; apaixonava-o, aprendia e imitava a piedade do povo português; encontrava belezas e grandezas por nós ignoradas – “A língua portuguesa que foi a língua da Igreja durante tantos séculos! Sim, porque não foi em português que se levou a fé de Cristo por tantos séculos pelo mundo fora?”; brindava “- Viva Aljubarrota!” agradecendo o facto de, em Tordesilhas, se terem formado dois braços para abraçar o mundo. “Que bem entendo as saudades, quando estou longe de Portugal!” – escreveu um dia na agenda do seu primeiro sacerdote português.

Hugo de Azevedo recordou o olhar de S. Josemaria, esse olhar de alegria, de carinho, de amor, de esperança e exigência, tudo ao mesmo tempo, que penetrava nas coisas mais simples, na superfície e no profundo. “- Vocês escrevam! Escrevam muito aos vossos pais! Mas não em dia certo, porque se a carta não chega…” “- E mandem fotografias! Mas não junto de outros mais gordos…” Estava dentro dos sentimentos, a pensar nos pais daqueles que viviam em Roma.

Recordou também o seu bom humor - um homem divertido, feliz! - que gostava de banda desenhada e chegava a aconselhá-la como leitura espiritual. Lembrou ainda alguns episódios que manifestavam o seu amor à liberdade, o apreço pela diferença de opiniões, de pontos de vista, de gostos. Um dia, numa reunião familiar, pediu que pusessem a tocar uns discos de canto gregoriano que alguém tinha oferecido. E perante o ar de um pouco sério dos circunstantes: “- Mas, vocês não gostam?!... Oh, meus filhos! Isto é música eterna!”... – e logo a seguir – “Parece que nunca mais acaba… Tirem lá isso!” Era assim: divertia-se e divertia-os, era uma alegria, um encanto estar com ele.