A Santa Missa era até o centro físico do seu dia. Dividia a sua jornada em duas partes: até ao meio-dia, vivia a presença de Deus centrando-a na ação de graças pela Missa celebrada, e após rezar o Ângelus, começava a preparar-se para a Missa do dia seguinte.
Confiou-me muitas vezes que, desde a sua ordenação sacerdotal, se preparava cada dia para celebrar o Santo Sacrifício como se fosse a última vez: o pensamento de que o Senhor o podia chamar a Si imediatamente depois o animava a derramar diariamente na Missa toda a fé e todo o amor de que era capaz. Assim até ao dia 26 de Junho de 1975, em que celebrou com extraordinário fervor a sua última Missa. (...)
Seria muito extenso descrever como o Padre vivia cada parte da Santa Missa. Referirei apenas dois detalhes de que me falou em muitas ocasiões. Ao elevar o Pão Eucarístico e Sangue de Nosso Senhor, repetia sempre algumas orações - não em voz alta, porque as rubricas não o permitem, mas com a mente e o coração -, com uma perseverança heroica que durou dezenas de anos.
Concretamente, enquanto tinha a Hóstia consagrada entre as mãos, dizia: Meu Senhor e meu Deus, ato de fé do Apóstolo São Tomé
Concretamente, enquanto tinha a Hóstia consagrada entre as mãos, dizia: 'Meu Senhor e meu Deus', ato de fé do Apóstolo São Tomé. Depois, inspirando-se numa invocação evangélica, repetia lentamente: Adauge nobis fidem, spem et charitatem, pedia ao Senhor para toda a Obra a graça de crescer na fé, na esperança e na caridade. Imediatamente depois, repetia uma oração ao Amor Misericordioso, que havia aprendido e meditado na juventude, mas que não utilizava nunca na sua pregação e que, durante muitos anos, só de quando em quando nos disse que recitava: 'Pai Santo, pelo Coração Imaculado de Maria, eu Vos ofereço Jesus, vosso Filho muito amado, e me ofereço a mim mesmo nEle, por Ele, e com Ele, por todas as Suas intenções e em nome de todas as criaturas'. Depois acrescentava a invocação: 'Senhor, dai-nos a pureza e o gaudium cum pace (“a alegria e a paz”) a mim e a todos', pensando, como é natural, nos seus filhos do Opus Dei. Por último, enquanto fazia a genuflexão, depois de ter elevado a Hóstia ou o Cálice, recitava a primeira estrofe do hino eucarístico Adoro te devote, latens deitas (“Adoro-te com devoção, Deus escondido”), e dizia ao Senhor: Bem–vindo ao altar!
Tudo isto, repito, não o fazia de vezes em quando, mas diariamente, e nunca mecanicamente, mas com todo o seu amor e vibração interior. Sei-o porque no-lo contou uma vez ao Padre Javier Echevarría e a mim, num dia de 1970, no México, enquanto fazia a sua oração em voz alta no Santuário de Guadalupe, onde havia ido fazer uma novena à Virgem, em companhia de outros filhos seus.
Mons. Álvaro del Portillo, Entrevista sobre o Fundador do Opus Dei, de Cesare Cavalleri